14 setembro 2015

Busca do Graal - Livro I




Autor: Bernard Cornwell
Tradutor: Luiz Carlos do Nascimento Silva 
Editora: Record Ltda. 
Ano: 2014 - 24ª edição
Páginas: 440 -Edição Econômica
Título Original: Harlequin
(O Arqueiro - A Busca do Graal )
Gênero: Romance inglês


Sinopse: Aos 18 anos apenas, Thomas vê o pai morrer em seus braços após um ataque-surpresa à aldeia de Hookton. Um lugar simples que escondia um grande segredo: A lança usada por São Jorge para matar o dragão, uma das maiores relíquias da cristandade. 
Em busca de vingança contra um homem conhecido apenas como Arlequim, o rapaz, um arqueiro habilidoso, se junta ao exército inglês em campanha na França, onde se envolve em batalhas e aventuras que, sem perceber, lançam-no na busca do Lendário Santo Graal. 
Com este romance, Bernard Cornwell usa o cenário da Guerra dos Cem Anos para dar início a uma saga tão empolgante quanto as aventuras de Artur e seus cavaleiros, narrada em As Crônicas de Artur, que transformam para sempre a imagem daqueles heróis míticos. 
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Se eu pudesse apostar cegamente em algum livro, seriam nos do Bernard, sem precisar nem conhecer a história, eu apostaria nos dele. Desde que eu li Senhor dos Anéis (sim, a anos e anos atrás e repetidas vezes) eu procurei alguém que pudesse escrever uma história no mesmo grau que o pai Tolkien (porque para mim, ele é o pai de tudo, sou completamente apaixonada pelo trabalho dele e fã de carteirinha de suas obras) e encontrei em Bernard exatamente o que eu procurava. 

O livro O Arqueiro é o primeiro da trilogia A Busca do Graal que nos mostra a vida do arqueiro Thomas de Hookton, e nisso eu posso certamente incluir seus fracassos porque o livro é recheado por eles. O livro em si já começa com um Prólogo recheado com o que o autor de melhor sabe escrever: uma batalha. Gosto de citar isso porque o ponto forte desse autor é a descrição fascinante de aspectos em cenas de guerra, e isso realmente me faz ver o que o personagem passa, ou seja, eu consigo criar na minha cabeça o local em que ele está e o que se passa ao redor dele pela prescrição dos detalhes.

Era época de páscoa quando os franceses desembarcaram sob as ordens de Sir Guillaume d'Evecque em Hookton, em 1342 com o propósito de roubar um tesouro que nada mais é do que a lança utilizada por São Jorge para matar o dragão. Sir Guillaume, contratado por um homem misterioso conhecido como Arlequim para tal finalidade, deixa a cidade sem suas defesas e rouba o tão estimado tesouro. Thomas, o filho de um Padre vê no arco que construíra na infância, escondido do pai que sonhava ver este seguindo seus passos, uma forma de viver após a morte trágica do Padre em seus braços. E, como legado ou maldição, Thomas promete ao pai que iria recuperar a tão estimada lança. E como poderia fazer isso? 


PRIMEIRA PARTE: BRETANHA. Após alguns anos Thomas já se tornou um belo homem, com longos cabelos negros e com habilidade no arco que carrega desde a infância. Esquecera-se quase por completo do próprio fardo e da promessa. Ocupa-se apenas em ser um um dos melhores arqueiros do bando de William Skeat que chefiava alguns soldados e arqueiros. Nesta parte eles estão em La Roche-Derrien e temos o primeiro contato com a personagem Blackbird, uma mulher que lutava nos muros da cidade e era conhecida por ser muito bela e fechar os olhos sempre que disparava sua besta e com Sir Simon Jekyll, um cavaleiro horrível e fadado ao fracasso, conhecido apenas por sua força bruta e zero de inteligencia, que se tornara uma pedra na vida de Thomas. Descobre-se, nesta parte que Blackbird é Jeanette Marre Halevy, filha de um mercador, esposa do conde d'Armorique, mesmo contra as graças do Rei. Desta união tivera um filho, porém o conde viera a falecer e lhe deixar apenas uma velha armadura e uma espada, que caiu em posse de Sir Simon após tentar estuprá-la. Thomas ganha destaque perante o conde de Northampton ao conseguir invadir a cidade, porém assina sua inimizade com Sir Simon após juntar-se com Jeanette e, ao tentar matá-lo, conseguira apenas fazer com que ficasse nu, acertando sua coxa com uma flechada que deveria matá-lo. Fugira de sua guarnição para uma cidade vizinha juntamente com Jeanette e seu filho, vestido com uma batina de padre. O erro do caminho deu-se por completo quanto Jeanette chega ao seu destino, o local onde seu sogro, o Rei, se encontra e, ao invés de ser recebida com graça, é estuprada por ele que garante apenas a segurança de seu filho enquanto ela seria dada em casamento por qualquer homem do local. Desesperada, foge de seu cárcere e reencontra Thomas, partindo assim para longe daquele local. Por ter uma dívida com o conde de Northampton, William Bohun, Thomas é admitido novamente ao grupo, sendo o conde responsável por pagar pela ofensa cometida por ele a Sir Simon. Seu objetivo agora: invadir Caen, local onde Sir Guillaume d'Evecque morava,  enquanto Jeanette o esquecia, vivendo nas graças do filho mais velho do conde, Eduardo de Woodstock. 

SEGUNDA PARTE: NORMANDIA. Nesta parte do livro eles invadem Caen e temos um pouco da visão francesa sobre essa guerra, vista do ponto de vista de Sir. Guillaume. Thomas, em plena guerra consegue cravar uma flecha na coxa de Sir Guillaume quando os mesmos passaram ao seu lado e invade a residencia do Sir em busca de sua lança após ser relembrado inúmeras vezes pelo padre Hobbe que lhe lembrava de sua promessa ao pai. Sem saber, defende do estupro Eleanor, filha bastarda de Guillaume, porém, mesmo após o conde de Northampton ter sanado a dívida de Thomas, Sir Simon não perde tempo e trata de enforcar Thomas. Jeanette, aproximando que estava nas graças do príncipe, lhe revela que Sir Simon a roubara e isso enfurecera o príncipe que, diante dessa revelação, banira o cavaleiro, para a alegria de sua dama. Pela primeira vez temos a presença de canhões contra os franceses e suas imensas muralhas que, para minha surpresa, nem cócegas causaram aos mesmos. Thomas é salvo por Eleanor e por Mordecai, um doutor milagroso que cuida de Sir Guillaume, acreditem, eu também me espantei, mas ele quem salva Thomas, no final de tudo. Descobre-se que Guillaume fora contratado no roubo da lança e ele revela a Thomas que o tal Arlequim não lhe pagara o devido e por isso tentou esconder dele a dita lança. Em vingança, Arlequim matara os filhos de Guillaume e sua jovem esposa. Thomas descobre que o símbolo preso em seu arco é um yale, símbolo dos Vixille, o mesmo do Arquelim e estende-se um grau de parentesco entre Thomas e o tal Arquelim e assim, nasce uma amizade entre Guillaume e Thomas. Nota: Eleanor parte com Thomas, tornando-se assim sua mulher. Os ingleses partem e, logo em seguida, os franceses passam a segui-los para contra atacá-los. Desta vez de forma definitiva e acredita-se que os franceses ganharão. 

TERCEIRA PARTE. CRÉCY. Chorei horrores, Thomas corta seus longos cabelos. Eu adorava os cabelos. Enfim. A batalha começa, os ingleses estão em menor número enquanto os franceses tem, para cada um soldado, dois. Com as flechas chegando ao fim, uma chuva chegando e enfraquecendo os homens, a escassez de comida está derrubando os soldados ingleses. Temos as duas visões de campo, tanto os ingleses quanto os franceses. E então, quem ganhará?
P-E-R-F-E-I-T-O! Um livro ricamente escrito, perfeitamente detalhado. Gosto da forma como o autor prende nossa atenção em cada capítulo, sempre deixando um suspense pairando. Quando a história começa a decair ele volta a trazer o leitor para o seu meio e, ao nos dar as duas visões do campo, tanto a inglesa quanto a francesa, nos dá a opção da escolha de lados. Para quem você irá torcer? 

Basta lembrar que esta guerra é retratada como a Guerra dos Cem anos e o autor buscou e estudou com cuidado muitos dos pontos, tanto que ele relata ao final do livro como seu estudo foi feito e quais modificações foram feitas para darem ao personagem Thomas mais destaque e iluminação. Inclusive, para os curiosos de plantão, ele ainda relata sobre a descoberta do arco longo e como ele infelizmente sucumbiu nos dias atuais. Vale a pena ler as páginas finais do livro também, acreditem, enriquece ainda mais o livro em sua narração. 

Gosto da forma como temos pitadas de humor nos diálogos dos personagens e como ele nos relata as dúvidas dos próprios condes. Eu, particularmente, sempre gostei de imaginar os poderosos governantes como os homens que sabiam decidir tudo e escolher e que a dúvida jamais existia. Mas esse livro em especial conseguiu me fazer ver que realmente eles tem que agradar não só as próprias expectativas mas as de seus seguidores. A forma como a parte real era retratada cheia de pompa também me fez realmente acreditar no que ele estava escrevendo. 

Ou seja, não tem muito o que falar a não ser que é um livro de fácil leitura, que trava uma guerra de dois lados apenas e que ambos os lados são retratados. Não tem como não se filiar a um e não necessariamente tem que ser o do personagem principal pois o autor nos dá muitos personagens bons. Eu por exemplo me afeiçoei com o Sir. Guillaume e espero realmente que o autor não o mate! Não é uma leitura cansativa como as diversas histórias de guerras que você lê dois parágrafos e já não sabe mais o que está lendo. 

E ai, já escolheu seu lado? Se você gosta de uma história cheia de novidades, cheia de batalhas, amores e desamores, esse é um ótimo livro. Certamente entrou na lista dos melhores livros que li esse ano. E, a título de curiosidade, o autor coleciona mapas e dedica-se a pesquisa sobre conflitos militares famosos, por isso a inspiração em todos os seus livros. Dez!
 

Nota: Arlequim, provavelmente derivado do francês arcaico hellequin: um soldado dos cavaleiros do demônio. 


ALGUNS TRECHOS DO LIVRO: 



"...muitas batalhas mortais foram travadas, pessoas assassinadas, igrejas roubadas, almas destruídas, jovens e virgens defloradas, esposas e viúvas respeitáveis desonradas; cidades, mansões e prédios incendiados, e assaltos, crueldades e emboscadas cometidos nas estradas. A Justiça falhou por causa dessas coisas. A fé cristã foneceu e o comércio pereceu, e tantas maldades e coisas horrendas seguiram-se a essas guerras, que não pode ser mencionadas, contadas ou anotadas."

João II, rei da França, 1360. 



"Um arqueiro não mira, ele mata. Está tudo na cabeça, nos braços, nos olhos, e matar um homem não é diferente de matar uma corça. Puxar e soltar, era só isso, e era por isso que tinha treinado por mais de dez anos, para que o ato de puxar e soltar se tornasse tão natural quanto respirar e tão fluente quanto a água que corria de uma nascente." {Pág. 28-9} 


" -O Santo Graal. Eles acham que o têm na catedral deles. Me disseram que é um grande cálice, esculpido em uma esmeralda e trazido das cruzadas. Eu gostaria de vê-lo um dia." {Pág. 33 - Sir Giles.}

"Matavam, estupravam e saqueavam. O medo levava os homens a abandonares suas fazendas, deixando a terra devastada. Eles eram os cavaleiros do diabo, e faziam a vontade do Rei Eduardo, arrasando a terra do inimigo." {Pág. 105}

" _Os hallequins- disse ela, com frieza- são os mortos que não têm alma. Os mortos que foram tão maus na vida, que o diabo gostou tanto deles que não os castiga no inferno, e por isso dá a eles seus cavalos e os solta sobre os vivos.- Ela ergueu o arco preto dele e apontou para a placa de prata presa ao centro dele. -Você até tem o retrato do diabo no seu arco." {Pág. 114 - Jeanette}


"Eu não sei o que acontece com algumas pessoas. Elas colocam um "sir" diante do nome e os cérebros ficam perturbados. Lutar de maneira limpa! Quem já ouviu falar numa coisa tão maluca? Se você luta limpo, você perde. Imbecil." {Pág. 119 - Skeat}

"Ser um arqueiro significa começar quando garoto, depois treinar e treinar até que o peito se alargassem os músculos dos braços ficassem enormes e a flecha parecesse voar sem que o arqueiro se preocupasse nem um pouco com a mira." {Pág. 160}

"A honra não se aprende, madame. Ela é adquirida mediante treinamento. Assim como se cria um cavalo para atos de bravura ou velocidade, ou um cão de caça para que tenha agilidade e ferocidade, treina-se um nobre para a honra. Não se pode transformar um cavalo de arado num cavalo de combate, nem um comerciante num cavalheiro. Isso é contra a natureza e as leis de Deus." {Pág. 192}

Por Bruna 

Um comentário:

  1. Depois de ler a Trilogia do Graal leia também o livro 1356 do mesmo autor, seria uma espécie de continuação dessa trilogia, é muito bom.

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